Continuidade de Negócios na Mineração: plano que salva operação (e reputação)

Instituto Minere

A mineração é uma atividade cercada por imprevistos. Desastres naturais, falhas geotécnicas, problemas na cadeia de suprimentos e até embargos comunitários podem parar uma operação do dia para a noite. Em um cenário como esse, um plano de Gestão de Continuidade de Negócios (GCN) não é um luxo, mas uma necessidade. É a diferença entre uma grande crise e uma interrupção controlada e recuperável.

Pense na GCN como um “seguro de performance” para a sua operação, protegendo seu caixa e sua reputação.

O Que é GCN (sem jargões)

A ISO 22301:2019 é a norma que orienta esse processo. Na prática, a GCN é um sistema para sua empresa resistir, reagir e se recuperar de um evento crítico. O objetivo é responder a perguntas essenciais:

  • O que na nossa operação não pode parar?
  • Como podemos manter ou retomar a produção rapidamente?
  • Quem faz o quê em uma situação de crise?
  • Com quais recursos podemos contar?

A GCN vai além de um simples Plano de Emergência. Ela abrange a operação inteira, desde o monitoramento de barragens após chuvas intensas até o restabelecimento da produção depois de uma falha elétrica, ou a gestão de uma crise de imagem.

A mineração precisa de GCN: 3 razões essenciais

A mineração é especialmente vulnerável a interrupções por conta de três fatores principais:

  1. Exposição a riscos críticos: Desastres naturais, rompimentos de barragens, falhas de equipamentos ou paralisações de comunidades podem ter um impacto devastador. Um evento sem planejamento de continuidade pode até mesmo interromper um projeto definitivamente.
  2. Cadeia de valor interdependente: Uma mina não opera sozinha. Da extração ao transporte por ferrovia e ao embarque no porto, cada elo é vital. Se uma parte da cadeia falha, o efeito dominó é instantâneo. A GCN mapeia essas dependências para evitar que uma pequena falha se torne um problema em cascata.
  3. Pressão de reguladores e sociedade: Após grandes tragédias, a sociedade e os órgãos reguladores passaram a exigir respostas rápidas, transparentes e estruturadas. Empresas que conseguem reagir de forma ágil e demonstrar resiliência protegem sua legitimidade e acesso a novos investimentos.

Como implementar a GCN na mineração (roteiro prático)

A implementação de um plano de GCN segue um roteiro claro e lógico:

  1. Análise de Impacto no Negócio (BIA): O primeiro passo é entender quais são os seus processos críticos. Quanto tempo a operação pode ficar parada? Quantos dados você pode perder? O BIA ajuda a definir o Tempo Máximo de Interrupção Aceitável (RTO) e o Ponto de Recuperação de Dados (RPO) para processos como monitoramento geotécnico, operação de salas de controle, energia e logística.
  2. Avaliação de Riscos: Usando a ISO 31000 como guia, identifique as ameaças que podem afetar a continuidade do negócio. Avalie a probabilidade e o impacto de cada risco (chuvas extremas, falhas de fornecedores, ataques cibernéticos em sistemas de automação, etc.) e priorize o que realmente pode paralisar a operação.
  3. Criação de Estratégias e Planos: Com os riscos mapeados, defina as estratégias para manter ou retomar as operações. Isso pode incluir a redundância de energia e comunicação, planos de evacuação e protocolos para eventos geotécnicos, ou rotas e contratos logísticos alternativos.
  4. Testes e Simulações: Um plano na gaveta não serve para nada. É essencial testar e simular cenários de crise, como uma chuva forte ou uma falha de equipamento. Os exercícios de mesa e os simulados em campo permitem que as equipes treinem e ajustem os planos, garantindo que todos saibam exatamente o que fazer.
  5. Integração com Outros Planos: A GCN não deve ser uma “ilha”. Ela precisa estar integrada com o sistema de gestão de riscos (ISO 31000) e com outros planos de segurança, como o Plano de Atendimento a Emergências (PAE). A integração garante que todos falem a mesma língua e trabalhem com os mesmos dados.

O que acontece quando a GCN vira prática

Quando a GCN é bem implementada, os resultados são visíveis e impactantes:

  • Menos tempo de parada: Equipes treinadas e planos testados garantem uma volta à operação mais rápida.
  • Menor perda financeira: A agilidade na resposta reduz a perda de produção, multas e custos operacionais.
  • Menos dano à reputação: Uma comunicação transparente e uma resposta organizada protegem a imagem da empresa.
  • Mais resiliência: A empresa se torna mais robusta a longo prazo, o que pode até gerar melhores condições em seguros e financiamentos.

A mineração do futuro será feita por empresas que, além de extrair minério, extraem valor da resiliência. A GCN é uma estratégia que transforma eventos críticos em interrupções controladas, protegendo pessoas, o meio ambiente e o futuro do negócio.

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Autor

Claudinei Cruz

Especialista em Recursos Minerais na ANM. Profissional Certificado pela ISO 31000, Gestão de Risco. Professor no Instituto Minere

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