Armadilhas que sabotam um planejamento de mina – a questão da hidrogeologia

por Alexandro Pinto em 13/Apr/2022
Armadilhas que sabotam um planejamento de mina – a questão da hidrogeologia

O Planejamento de Mina é fundamental para garantir o retorno econômico de um empreendimento. Segundo Paulo R. G. Melo “O planejamento de lavra visa extrair de modo estratégico as reservas de minério, segundo restrições técnicas”. Para isso o planejador deve, em horizontes de curto e longo prazo, orientar o projeto mineiro e suas operações para extração do produto mineral conforme estudo de viabilidade.

Quanto melhor a qualidade dos Planos de Longo Prazo, melhor será seu desdobramento para o Planejamento de Curto Prazo, e consequentemente menor será o custo operacional. É claro que em muitas situações conhecimento requer maior tempo e investimento, o que geralmente é limitado nas organizações. Em muitos casos se estabelece cronogramas e orçamentos para responder se o negócio/orçamento é viável, e em caso positivo, se parte para a próxima etapa.

Para que um bom planejamento seja feito é fundamental o uso de premissas consistentes, o que normalmente depende de profissionais experientes e qualificados, de preferência com conhecimento de operações e questões locais. O site do DEMIN da UFMG apresenta como principais as seguintes informações requeridas para um Planejamento de Lavra:

  • Modelo Geológico
  • Modelo Geotécnico
  • Método de Mineração
  • Modelo Metalúrgico
  • Estratégia de Extração
  • Fatores de perda de Diluição
  • Custo de mineração/processamento 
  • Valor do Produto

A partir da lista acima é possível perceber o volume de informações necessárias e a quantidade de trabalho técnico requerido para seu processamento. Vários profissionais são envolvidos em modelos geológicos/geotécnicos, levantamento de custos, matriz benefício, desenhos de mina, dimensionamento de frota, sequenciamento de lavra, programa de ROM, qualidades de produto,  capacidades de planta, logística e mercado. Muitas vezes estas atividades são repetidas, pois algum problema é apontado em uma fase posterior, consolidando o Plano de Lavra em versões cada vez mais coerentes, com as estratégias da organização e com os dados e premissas de entrada.

Entretanto armadilhas podem surgir durante ou mesmo após o Plano estar pronto, o que quanto mais demorar a ser percebido, mais prejuízo irá acarretar a organização. Podemos classificar estas armadilhas como externas, como licenciamento, mudanças de mercado, questões com a comunidade; e internas, ou técnicas, como capacidade produtiva, problemas no modelo geológico/geotécnico e questões relacionadas a água. Como o Brasil é um país com clima tropical, elevados índices pluviométricos e possuidor de grandes aquíferos, a água apresenta-se como um problema que merece atenção especial dos planejadores. A sazonalidade das chuvas, primeiramente, deve ser considerada para variação das capacidades produtivas ao longo no ano. Ainda se erra muito nas estimativas de impacto das chuvas, pois geralmente os planos para a preparação de mina para o período chuvoso são incompletos.

Temos ainda as questões de geometria de mina e depósitos de estéril que afetem cursos d’água, intermitentes ou não, que precisam ter projeto específico adequado. Estudos de vazão não previstos em determinados locais de avanço podem fazer falta em momentos de definição de projetos, acarretando custos corretivos posteriores. Pior ainda se houver inundações em operações de cava por erro de planejamento/projeto, o que este autor já viu no Brasil e no exterior.  

O subsolo também pode trazer surpresas com os níveis do lençol freático. Apesar de todos os itens levantados para o Planejamento de Lavra, se não houver um conhecimento Hidrogeológico razoável atrelado a um projeto de rebaixando de longo prazo, o plano anual já nasce morto. Os requisitos de rebaixamento de lençol freático podem demandar anos, o que precisa ser previsto em planos quinquenais, para viabilidade de planos de lavra anuais.

A conclusão é que o conhecimento Hidrogeológico compensa e irá lhe economizar. Uma equipe técnica multidisciplinar com profissionais experientes e qualificados serão sempre importantes para um bom planejamento, pois as armadilhas nem sempre estão visíveis e podem levar seu projeto, literalmente, por água abaixo. 

 

Alexandro Pinto

Engenheiro de minas com mais de 20 anos de experiência em grandes operações de Ferro, Cobre e Carvão, no Brasil e no Exterior. Já ocupou cargos de gestão em Operações de Mina e Planejamento, tendo sido membro de Comitê e Auditoria Técnica.

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